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Vinho Verde – Muito além de um estilo!

03 fevereiro - 2021

 

Vinho Verde por anos tem sido sinónimo de um estilo mais parecido com o Casal Garcia (marca mundialmente conhecida) e outras marcas que ganharam o mercado exterior com um estilo muito especifico do “pouco álcool, muito CO2 e bem frutado”. Isto acabou sendo a forma como o mundo conheceu a região.

Isto promoveu os vinhos do Minho, tanto como região, tanto como estilo. Inclusive a própria Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) tem regras para que este estilo continue a fazer parte do portfólio dos Vinhos Verdes e que seja protegido.

Devemos deixar bem claro que isto não é um problema!

Em muitos países produtores de vinho existem estilos dominantes.

Como por exemplo a Nova Zelandia quando promoveu seus vinhos da casta Sauvignon Blanc. O principal foco era produzir vinhos fáceis, frutados e acessíveis. Estilos muito diferentes dos Sauvignon Blanc do velho mundo. Estilos que fizeram sucesso e que têm uma boa reputação.

O problema aqui é outro. No caso da Nova Zelandia o mundo sabe que existe uma variação enorme de estilos de vinhos deste país. Nem tudo da Nova Zelandia é Sauvignon Blanc.

O mundo sabe inclusive que Marlborough – onde se criou com mais força o estilo frutado e sem influencia de barricas – não faz os vinhos que são produzidos em Hawke’s Bay onde Cabernet Sauvignon, Syrah e Merlot dominam. Quer isto dizer que a Nova Zelandia não é só vista como país do Sauvignon Blanc.

Mas será que o mundo sabe que Vinho Verde não é apenas e só composto por vinhos fáceis e frutados? Ele sabe que existem sub regiões com castas indígenas? Ele sabe que existem vinhos “maduros” como os grandes Alvarinhos de Monção e Melgaço? Ou ele sabe que se faz também muito Vinho Verde tinto? Exatamente isso que este parágrafo quer elucidar: Vinho Verde é muito mais que só um estilo!

Assim como acontece em Espanha na região da Galiza (vizinha e amante do Minho português) ou até mesmo assim como acontece em Bierzo, um pouco mais distante mas partilhando as mesmas influencias de clima, em Portugal na região do Minho a denominação de origem controlada Vinho Verde é rica e complexa. Os solos são diversos e dão origem a castas com caráter único que difere referente à influência do seu Terroir (= Homem, Clima e Solo). Assim sendo o Alvarinho que se planta em Monção e Melgaço é diferente do Alvarinho que é cultivado na região de Lima. Pois são micro climas que alteram a maturação da casta. Assim como a exposição solar e a influência do solo. Queremos mostrar como uma única região consegue ser diferente entre a mesma casta e sua influência no resultado final, o vinho.

Falando do Alvarinho como citado no parágrafo acima, podemos ir além… Vamos falar daquilo que nos toca como produtores de vinhos nesta região, o estilo. Sim, a mesma casta Alvarinho que pode produzir vinhos alegres, frutados e fáceis de entender com um toque de CO2 para ainda mais potencializar a sensação de frescura, também consegue fazer vinhos ditos sérios. Vinhos maduros e complexos usando a mesma casta e a mesma região. Como é o caso do nosso Ricardo Reis da gama Heteronyms. Foi produzido com 100 % Alvarinho em Monção na sub região de Monção e Melgaço. No caso do 2017, ele estagiou em barrica de castanho Português por 12 meses. Estagiou este tempo nas borras finas com batonage frequente. Ganhou assim complexidade e estrutura que traz um enorme potencial de guarda. Um estilo digno de vinhos icónicos de outras regiões do mundo como por exemplo os vinhos brancos da Borgonha em França.

Então Vinho Verde não é um estilo? Não é um Vinho Verde feito de uvas menos maduras, fresco e alto em acidez? Não é não! Na região há vinhos maduros, há vinhos tintos e há rosés, também há espumantes. A Denominação de Origem Controlada (DOC) Vinho Verde é uma região demarcada assim como é o Douro, a Beira Interior, o Dão ou o Alentejo. É uma DOC riquíssima em estilos. É rica em diversidade de castas e de solos. Merece assim toda a atenção e reserva-se o direito de ser conhecida por uma das mais importantes regiões vínicas de Portugal.

Nós Pessoa Wines produzimos quatro vinhos no Vinho Verde do Minho.

São dois brancos com estilo mais fresco e frutado. O nosso Summer Wine com a casta Loureiro da sub região de Lima. E o nosso White Blend com as castas Alvarinho e Trajadura que é produzido em Monção.

Um belíssimo branco com estágio em barrica: o Ricardo Reis da gama Heteronyms produzido com a casta nobre Alvarinho.

E por fim, o nosso vinho mais novo, o Spring Rosé produzido em Amarante com as castas tintas Padeiro e Espadeiro.

Este nosso projeto já consegue mostrar a variedade e diversidade. Só isto diz por si: Vinho Verde é um região apaixonante e diversa. Ela merece ser reconhecida como tal!

 

Texto por:

Lívia Novais – Produtora, Sommelière & DipWSET

Jorge Gonçalves – Produtor & Enólogo

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